sábado, 22 de novembro de 2014

Não seja indiferente, Felipe

Muitas vezes, Cesar, nós nos tornamos indiferentes em relação às coisas que acontecem à nossa volta.  Mas não é culpa da gente, sabe. É que as situações horríveis chegam diariamente, não temos controle sobre isso, dá pra ver nos telejornais. As notícias a respeito de morte com  tiros de uma arma de fogo já não nos comovem mais. É comum. Mulher estuprada no matagal e encontrada morta no dia seguinte é comum. Filho matar pai, pai matar criança... Infelizmente é comum.  Tem criança vendendo bala no sinal, mas a gente sabe, é comum. Nos tornamos um pouco indiferentes diante de todo o sofrimento dos nossos próprios irmãos.

Querido, entenda, isso não é uma crítica a você, mas a todos nós. O que eu quero, na verdade, é que  você seja diferente do comum. Quero que você, Cesar, seja sensível com a atual situação. Quero que você, amigo, sinta compaixão. Quero que sempre que possível, por mais que pareça besteira, você sinta a dor de uma mãe que perdeu o filho pras drogas, porque esse filho já foi uma criança, já deu seus primeiros passos, já levou pontos no braço por cair andando de bicicleta. Sinta, Cesar, cada vez que um brasileirinho morrer por motivos banais; quando uma criança morre indignamente lembre-se que era apenas uma criança e tinha um futuro lindo pela frente.

Fatalidades são tão comuns e as pessoas estão se habituando a elas. Não se habitue, por favor. Nós só fazemos o bem quando nos sentimos desconfortáveis com a situação do próximo, independente de quem ele seja. Eu quero te dizer que espero que você também se sinta desconfortável diante de situações como estas. Digo isso porque sei do seu potencial de ajudar as pessoas e da sua boa vontade, mas se não houver desconforto, a gente se acomoda.

É isso que eu quero te pedir nessa carta, que você não se acomode. Muitas pessoas, Cesar, já perderam a fé na humanidade quando se encontram diante de um telejornal sangrento. E essas pessoas têm razão porque já são mais velhas e já viram muita coisa acontecer, já estão calejados de notícias ruins e descrentes de que tudo pode mudar. Mas você não. Você é jovem, cheio de vida e cheio de confiança e compaixão. Sabe, se as pessoas mais vividas já perderam a fé na humanidade, nós não devemos perder. As vezes parece difícil, mas se nós não mostrarmos que é possível, quem vai mostrar?

Procure sempre entender a dor das pessoas, mesmo que você vá chegar mais tarde em casa. Cada pessoa é única, amigo. Somos donos de tantas emoções, tantas dores. Chore se não puder fazer nada por alguém que você gostaria muito de ajudar, não precisa chorar em público; as vezes é só o coração que chora. Faça o que puder, só não seja indiferente, o mundo já está muito cheio de indiferença e egoísmo. Você é uma pessoa incrível que só merece dar o seu melhor.

Com carinho,
Djessyka

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