Amigo, não sei a partir de qual idade isso acontece, exatamente. O que
eu sei é que em algum momento da vida nós acabamos percebendo o quanto
parecemos com alguém. Acredito que as coisas funcionam mais ou menos da
seguinte maneira: Quando somos crianças nossos pais são
seres-incorruptíveis-paladinos-do-amor-perfumados-descolados seguindo uma lista
quase infinita de qualidades. Depois que crescemos um pouco (comigo aconteceu
por volta dos dezesseis anos), percebemos como eles são abarrotados de
defeitos. Economizam demais, piadas demais, assistem coisas chatas
demais, chamam atenção demais. Mas, agora aos vinte e um, me encontro em uma
fase muito mais tranquila. E, nesta fase, me dedico a perceber o quanto sou
parecida com meu pai.
Reproduzo constante e inconscientemente defeitos que eu costumava julgar
(e mal julgar) mentalmente. Vai além (muito além) da aparência. Não sei se você
já percebeu, mas a maneira com a qual eu chamo a atenção das pessoas quando
quero conversar é fotocopiada. Ás vezes eu tento mudar. Inútil. A maneira que eu conto piadas
também são pequenos clones de personalidade. Meus comentários sobre o Jornal Nacional e a entonação que eu uso para
reproduzí-los são tão iguais aos dele.
Sabe, coisas estranhas estão acontecendo. Na realidade, nunca achei que
pudesse ser tão econômica, defeito este que me incomodava tanto no meu pai. Entre tantas outras coisas que posso passar a minha vida listando.
Cesar, sei que esse tipo de pensamento não nos
acrescenta muita coisa em primeiro momento. Também não sei se você já parou
para refletir sobre isso. Mas, sabe amigo, eu gostaria de ver você descrevendo
cada semelhança que possui com alguém. Independe quem.
Peço que faça isso em algum momento da sua vida e
perceba o quanto da personalidade que carregamos dentro da gente nem é realmente
nossa. Nós não somos cem por cento nós. Somos pequenos espelhos de quem amamos
e este processo acontece desde a infância. Na verdade, somos pedaços de quem
admiramos.
Com carinho,
Djessyka
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