terça-feira, 11 de novembro de 2014

A vida não é como queremos, Cesar.

Amigo, já não sei quanto tempo faz que paramos de nos falar. Sei que sua viagem foi em agosto ou setembro. Sei também que estamos longe um do outro agora. Não sei exatamente quantas cartas preciso te escrever pra aliviar minha saudade por mais que ela seja bem grande. A verdade é que nem sei se qualquer uma destas cartas vai chegar até você. Digo isso por alguns motivos:

Primeiro o orgulho. Jamais chegaria até você pra lhe mostrar qualquer coisa que eu tenha escrito, sabe, às vezes é demais pra mim dar o braço a torcer. Segundo o vitimismo. Não quero me fazer de a-boazinha-que-escreveu-uma-série-de-cartas-para-o-amigo-que-brigou-e-foi-morar-em outro-país, até porque eu também errei em algumas coisas contigo. Terceiro porque sempre tive medo das reações das pessoas. Você, como meu amigo, sabe que já levei bons pés na bunda e que estou tentando não me decepcionar com as pessoas ultimamente (talvez eu fale disso em alguma carta futura). Quarto (e mais importante) não quero criar expectativas de que vamos nos falar de novo. Se eu alimentasse a esperança e a expectativa de um dia te mostrar essas cartas, talvez esse tipo de sentimento esteja acoplado a um possível retorno da boa amizade que tínhamos até então. Seria maravilhoso, mas como eu disse, não quero alimentar qualquer expectativa famigerada que venha me tirar o sono. Quinto, não quero me enganar pensando sem querer que quando você voltar para o Brasil vamos automaticamente começar a nos falar. Não parece que vai ser assim.

Cesar, são esses os motivos que me levam a acreditar que minhas cartas devem ficar escondidas por quanto tempo for necessário. É difícil pensar que o necessário pode ser pra sempre. Pode ser que me lembre dessas cartas quando for tarde demais e a vida tenha mexido com alguma raiz da amizade que tínhamos (ou temos). Pode ser que eu me arrependa por isso daqui alguns anos. Ninguém sabe.

Por isso, Cesar, a vida não é como queremos. Se assim fosse, estaríamos nos falando todos os dias por meio de qualquer parafernalha tecnológica. Muitas coisas não correspondem às nossas expectativas: pode ser um bolo que queimou, um vestibular frustrado, ou um amigo perdido. E, sabe amigo, por mais que pareça difícil temos que aprender a conviver com as frustrações. Elas vão doer seu coração, as vezes por meses a fio e você vai chorar. Todos vamos. Mas dentro da gente sempre vai existir algum tipo de força pra colocar o pé no chão e abrir a porta pra tentar entender o que a vida tem pra gente.

Então, Cesar, cresça independente de mim. Eu sou só um apêndice, um anexo da vida. Não sou nada que possa contribuir com qualquer sucesso que você venha a ter. Talvez alguma carta futura te diga ao contrário, e, se isso acontecer é porque sou assim mesmo, cheia de restrições e qualquer tipo decontradição.


Com carinho,
Djessyka.

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